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 / maio 2014

Falta de novos empreendimentos já afeta engenharia de projetos no Brasil

A proximidade do fim das grandes obras que tomaram o país nos últimos anos, principalmente com a construção de refinarias e unidades de fertilizantes da Petrobras, já está afetando a engenharia de projetos brasileira, que apresenta uma redução no número de sua capacidade produtiva este ano. O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Antonio Müller, acaba de ser reeleito para o posto, com mandato que vai até 2016, e alerta para a necessidade de novos projetos no país, com o intuito de garantir o fortalecimento e o desenvolvimento da engenharia nacional. Müller diz que em alguns casos essa redução dos recursos humanos na área de engenharia de projetos chega a 50% em relação ao ano passado e destaca que todos os envolvidos na área de engenharia industrial estão buscando soluções para o problema em conjunto. Uma das sugestões é a criação de um banco de projetos, que poderia adiantar o desenvolvimento de projetos básicos e manter a evolução da engenharia nacional.

Como avalia a conjuntura da engenharia nacional?

Uma das coisas que é muito importante é a capacitação da engenharia, tanto básica, quanto de detalhamento. Agora, o segmento de engenharia industrial hoje nos preocupa muito, porque, com a aproximação do término dos grandes projetos, como a Rnest e o Comperj, aliada à falta de novos empreendimentos, já há uma redução da quantidade de recursos humanos relevante. E isso vai gerar um impacto posteriormente nos novos projetos de construção e montagem que surgirem.

A Abemi tem números referentes a essa redução?

Não tenho estatísticas fechadas, mas o percentual que me dão, inclusive que já foi apresentado em reunião de diretoria, é de cerca de 50% a menos dos recursos humanos em engenharia de projeto do que havia no ano passado. É uma redução muito significativa da capacidade produtiva. Um grande foco da Abemi é essa parte toda de projeto básico e de detalhamento, e queremos que as empresas voltem a ter carga para continuar desenvolvendo projetos.

Essa preocupação tem sido debatida com as grandes contratantes?

O grande contratante é a Petrobrás, e depois vem a Vale, então estamos levando essa preocupação a eles. Também já levamos a reuniões do Prominp, e existe um desejo de todo mundo de resolver isso. Estão todos envolvidos na busca de soluções. Quem sabe até a criação de um banco de projetos.

Como funcionaria isso?

Você sabe que vão ter alguns empreendimentos lá na frente e começa a fazer os projetos com antecedência, deixando ao menos o projeto básico pronto para quando aparecer a oportunidade. É importante para a geração de empregos e para fortalecer a engenharia nacional.

Quais são os principais desafios à frente da Abemi?

A consolidação da engenharia básica no Brasil. Isso é importantíssimo. Outro ponto é o aumento da produtividade no país. O Brasil tinha uma capacitação muito importante em engenharia básica no passado, mas perdeu, e agora tem que reconquistar. Engenharia básica em hidrelétrica a gente faz, em termelétrica, também, mas em processos nós perdemos.

Pode citar algum projeto da Abemi neste sentido?

Neste ano, por exemplo, estamos desenvolvendo o terceiro livro da Abemi, que é de produtividade e engenharia. Já fizemos um de gestão de empreendimentos e outro de produtividade em tubulação. Esse novo é focado em engenharia.

Quais são as bases do livro?

Serão orientações organizadas pelos nossos associados sobre o que são as engenharias conceitual, básica e de detalhamento, além de indicações sobre novas ferramentas para aumentar a produtividade.

Que tipo de ferramentas?

Fala-se muito em ferramentas para o desenvolvimento de projetos em 3D, o que hoje já fazemos, e agora queremos desenvolver em 4D e em 5D. O projeto em quatro dimensões é o que inclui o planejamento de tempo, com o cronograma ligado a ele, e o 5D é quando entra a parte orçamentária. Então, a curto e médio prazo deve haver um maior desenvolvimento de projetos em 4D. Em 5D deve vir em sequência. São de 40 a 50 empresas trabalhando nesse livro.

Há outras iniciativas paralelas ao livro com o mesmo intuito?

Há várias. Uma muito importante é o grupo de trabalho Abemi-ABCE-Petrobras, que trabalha há 10 anos desenvolvendo procedimentos avançados de engenharia. Já fizemos mais de 100 procedimentos de execução, engenharia, montagem e construção. É um grupo altamente qualificado. Tenho muito orgulho de fazer parte dele.

 Antonio Müller é presidente da Abemi e da Tridimensional Engenharia. Engenheiro Mecânico  formado pela UERJ, com cursos de extensão em Harvard Business School, Geórgia Technology University e Drexel University. Membro vitalício da American Society of Mechanical Engineers – ASME. Ocupou muitos cargos nos níveis de diretoria e  presidência em empresas de engenharia e foi membro do conselho de administração de muitas  empresas, órgãos e associações ligados ao setor energético.

Entrevista extraída do site petronoticias.com.br feita por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br)

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